Vida de Biólogo Offshore
- Monica
- 1 de set. de 2020
- 3 min de leitura
Todo biólogo que é apaixonado pelo mar, sonha em trabalhar no mar.

O profissional biólogo tem uma ampla gama de linhas no qual poderÔ seguir profissionalmente, e uma delas é embarcar em grandes navios para estudar as baleias e golfinhos.
Este desejo nĆ£o Ć© impossĆvel de ser realizado, no entanto para se chegar lĆ”, Ć© preciso muita dedicação. AlĆ©m de anos estudo para concluir a graduação (geralmente 5,5 anos), experiĆŖncia e inglĆŖs fluente sĆ£o requisitos fundamentais na hora de disputar uma vaga. Cursos extracurriculares, mestrado e doutorado sĆ£o um āsuper-bĆ“nusā para quem quer ser pesquisador. O tempo de estudo investido durante toda a vida de quem se dedica realmente ao que gosta, transforma-se em realização pessoal com o tempo.

Viver em confinamento por longos perĆodos em alto mar tem, como todo trabalho, seus benefĆcios e suas dificuldades. Ćs vezes, o anseio por um sonho nos leva a trilhar caminhos que nĆ£o sĆ£o fĆ”ceis, e assim Ć© a vida de quem deixa para trĆ”s, mesmo que temporariamente, a famĆlia, o conforto de casa, os amigos e o livre arbĆtrio de ir e vir. Quando vocĆŖ cruza a linha entre a terra firme e o balanƧo do mar e, vagarosamente vĆŖ cada vez mais distante o continente, vocĆŖ comeƧa a entender e sentir sensaƧƵes totalmente distintas do dia a dia.
Em alto mar, as horas passam lentamente e os dias aparentam ser mais longos. O nascer e o pĆ“r do sol sĆ£o intensificados por cores indescritĆveis, limpas e hipnotizantes.

O azul do mar em concordância com o céu transmite uma paz sem fim. Peixes voadores e grandes cardumes passam a compartilhar os momentos de solidão no trabalho. O binóculo assume o posto de confidente e fiel companheiro, estando presente todo o tempo. De repente, com o olhar fixo no horizonte, grupos gigantescos de incontÔveis golfinhos rasgam a tranquilidade do oceano e rapidamente realizam lindas acrobacias.

Nos minutos seguintes, enormes e majestosas baleias ābailamā nas Ć”guas claras do atlĆ¢ntico, saltando 10 a 15 vezes, deixando apenas os rastros de espuma como prova de sua forƧa. E assim, desaparecem no infinito profundo. Os cardumes de grandes peixes que circundam o navio atraem aves marinhas que mergulham longos metros como velozes torpedos, retornando ao voo com uma bela refeição. Assim sĆ£o os dias no mar.
VocĆŖ se acostuma com o balanƧo, com a rotina de acordar antes do sol nascer e de dormir na presenƧa da lua clareando a escuridĆ£o. Poucas horas de sono, restrita vida social e ausĆŖncia do āmundo externoā. Aos poucos o corpo percebe que o tempo Ć© seu amigo e que ele conduz os pensamentos para o que se pode chamar de evolução pessoal.

As pequenas coisas se tornam grandes e abençoadas, você enxerga diferente e sente-se diferente. Muitas pessoas olharão para seu estilo de vida e perguntarão: mas como você consegue ficar tanto tempo trancada em um navio? Daà você olha, respira, pensa e relembra cada pÓr do sol, cada tom, cada cor e cada baleia livre que cruzou seu olhar, deixando uma singela mensagem no seu coração. Tudo isso e outras tantas sensações poderiam resumir modestamente o porquê você se abdicou de tantos prazeres para estudar, mas estas justificativas são internas e não existem palavras que expliquem esta sensação.

Talvez, por este estilo de vida ādiferenteā Ć© que somos taxados (muitas vezes carinhosamente e outras tantas nĆ£o) como ābicho griloā.
Então parei, relembrei e sorri.
Escrito por: MÓnica Pontalti, Bióloga, Msc. e Doutoranda em Ciência e Tecnologia Ambiental, UNIVALI.
Imagens: arquivo pessoal.